terça-feira, 22 de abril de 2008

Ultras do PSG: Fim anunciado



Já estava no ar há algum tempo, mas Michèle Alliot-Marie, ministra francesa do Interior, tornou oficial uma decisão inevitável. Ela anunciou a dissolução de duas torcidas organizadas conhecidas por seus gestos de violência, discriminação e comportamentos antidesportivos. Os Boulogne Boys, ligados ao Paris Saint-Germain, e a Facton Metz deixaram de existir. Trata-se de uma medida elogiável, mas que na prática não terá grandes efeitos visíveis.
Michèle comentou que a medida se encaixa nos anseios de tornar mais rígido o controle contra ações ofensivas no esporte, com um projeto de lei com medidas mais duras para combater a violência nos estádios. A proposta será encaminhada nos próximos dias ao Parlamento, e esse pacote de regras será amplamente discutido. O fim desses dois grupos de ultras significa uma resposta rápida do governo à sociedade após os recentes e chocantes casos de racismo vistos no futebol do país.
O caso da torcida do PSG se tornou o mais discutido e de maior repercussão. Apenas para lembrar, alguns membros dos Boulogne Boys participaram da confecção e exibição de uma faixa com uma frase ofensiva aos habitantes do norte da França. A atitude condenável ocorreu durante o segundo tempo da decisão da Copa da Liga, no Stade de France. O adversário do clube da capital era o Lens, cuja sede se localiza na mesma região retratada de forma depreciativa por parte da torcida parisiense.
No caso da Faction Metz, o grupo, formado por cerca de quarenta pessoas, causou polêmica na parte final do confronto contra o Lyon, em Gerland. Os ultras, ligados a movimentos de extrema direita, fizeram o típico cumprimento nazista, com os braços esticados. Além disso, entoaram cânticos discriminatórios e de exaltação ao regime de Adolf Hitler, com uso de símbolos do regime.

Os Boulogne Boys, grupo mais numeroso, colecionam gestos de violência em seu currículo. Criada em 1985, a torcida se envolveu em diversas brigas, atos de vandalismo e discriminação. Na sala destinada a eles no Parc des Princes foram encontrados vestígios da confecção da faixa exibida no Stade de France. Há ainda o caso da morte de um de seus membros após o jogo contra o Hapoel Tel Aviv, pela Copa Uefa. Um policial à paisana usou sua arma para tentar proteger um torcedor da equipe israelense da perseguição dos ultras, que o ofendiam com termos antisemitas. O assassino, negro, também foi vítima de discriminação.

A ministra usou o bom senso para anunciar a dissolução destes dois grupos. No entanto, a situação pouco mudará na prática. O exemplo dos próprios Boulogne Boys mostra como erradicar o problema vai muito além de proibir um grupo de pessoas de entrar no estádio com camisas e faixas que as identifiquem com a facção. Todos se reúnem no mesmo lugar no estádio e se juntam no mesmo bando, tanto antes, como durante e após a partida. Tira-se apenas a identidade de cada elemento formador, mas a essência continua ali, na forma de um grande grupo organizado.

Em São Paulo, quando o Ministério Público extinguiu algumas torcidas organizadas, elas logo arrumaram meios para continuar a empestear os estádios. Mesmo quando elas são proibidas de ostentar seus símbolos, todos conhecem o setor no qual se concentram no estádio, o ódio nutrido pelos rivais e uma necessidade tacanha de mostrar sua força física. Esse espírito bélico não se arranca dos membros de organizadas da mesma forma como as camisetas repletas de símbolos alusivos à violência.

Além disso, no caso das torcidas do PSG, há grupos tão ou mais violentos do que os Boulogne Boyz. Os Gavroches, que ficam praticamente no mesmo setor das arquibancadas do Parc des Princes, são ainda mais brutais, sem contar os pequenos grupos formados por radicais, extremistas e bandidos. Fisicamente, os Boulogne Boys deixaram de existir, mas sua alma deve vagar tranqüilamente para nortear os pensamentos nada agradáveis de seus membros. Há ainda um longo trabalho a se fazer, mas pelo menos a França parece disposta a ir até o fim para combater este mal.

Heróis e vilões

No Parc des Princes, Bakary Koné viveu uma noite digna dos heróis. O marfinense teve papel fundamental na vitória do Nice sobre o Paris Saint-Germain por 3 a 2 e ajudou o OGC a manter viva a esperança de se classificar para uma competição européia. Ao PSG, sobraram as lamentações por mais um tropeço. Mesmo quando os adversários ajudam e perdem, o clube da capital desliza e deixa passar mais uma chance preciosa para sair da zona do rebaixamento.

Em sua terceira temporada no Nice, Koné marcou 12 gols nesta temporada – os dois em Paris foram seus primeiros feitos fora de casa nesta edição da Ligue 1. O atacante vive seu melhor momento, no qual se aproveita de sua agilidade para deixar os adversários para trás. Yepes e Camara ainda tentam encontrar fórmulas para explicar como o baixinho de 1,63m destruiu a defesa do PSG. Uma atuação digna de aplausos, como os recebidos da torcida parisiense quando deixou o campo. Uma prova de reconhecimento ao bom futebol, apesar da dor de ver a equipe do coração permanecer em estado crítico.

Por outro lado, um de seus colegas de seleção passa por momentos de angústia. Aruna Dindane tem sofrido com a campanha ruim do Lens, outro candidato ao rebaixamento, e isso se reflete em suas atuações abaixo da média. Contra o Lorient, em duelo chave para as pretensões dos Sang et Or de continuar na primeira divisão, o atacante resumiu como seus dias se transformaram em uma tormenta.

Dindane ajudou o Lens a pressionar os Merlus durante boa parte do confronto. O marfinense se mostrou bastante ativo na criação de jogadas e teve a seus pés várias oportunidades para marcar. No entanto, um inspirado Fabien Audard fez uma série de defesas difíceis. Quando o arqueiro não conseguiu parar o adversário, a trave surgiu no meio do caminho para lhe dar uma ajuda – e fazer o rival cair no desespero. O marfinense apresenta estatísticas modestas nesta temporada: marcou apenas cinco gols e, pior, não balança as redes desde a 17ª rodada.

Após disputar a Copa Africana de Nações, Dindane viu seu espaço na equipe diminuir com a contratação de Toifilou Maoulida, que rapidamente se adaptou ao elenco e demonstrou maior poder de fogo – embora o Lens não seja exatamente uma máquina de fazer gols. De atacante decisivo a coringa no banco de reservas, o marfinense viu o time amargar uma série de dez partidas sem vitória, perder a decisão da Copa da Liga e, com isso, ter seu moral ainda mais abalado. Caso a queda para a Ligue 2 se confirme, o atacante deve deixar os Sang et Or pela porta dos fundos, um triste desfecho para quem era tão badalado.

Voltando ao PSG, a ‘síndrome loser’ da equipe espanta a cada rodada. Os jogos do sábado tiveram resultados entregues de bandeja ao clube da capital. As derrotas de Lens e Strasbourg deixavam o caminho livre para a equipe se esforçar para ganhar algum ponto contra o Nice em pleno Parc des Princes e colocar a cabeça para fora d’água. O ‘já perdeu’, porém, impede o clube de concretizar seus anseios. Como nas partidas anteriores, a fragilidade dos nervos dos atletas no momento de decidir custou caro.

Em três minutos, o Paris Saint-Germain passou da euforia à tristeza, com a virada tomada pelos gols de Koné e Éderson. Em vez de se fechar na defesa quando estava com a vantagem de 2 a 1, a equipe se abriu e convidou os visitantes, que não se fizeram de rogados. Parece que o PSG desaprendeu a vencer. Nas cinco rodadas mais recentes, a equipe somou apenas quatro pontos. Os rivais têm dado uma força muito grande, mas a força para reagir precisa partir do próprio time da capital.

Já o Strasbourg está com cara de quem retornará à Ligue 2 mais breve do que imaginava. O Racing chegou a ocupar a sexta colocação, mas a seca de seu ataque (zero gols nos últimos cinco jogos) ajuda a explicar como a equipe caiu tanto de produção neste segundo turno. Inofensivo, o RCS colecionou derrotas: são oito em nove partidas, sendo seis em seqüência. Para piorar, os adversários até o final do campeonato são Lyon, Rennes, Nancy, Caen e Olympique de Marselha. Melhor preparar as malas para o embarque para a segunda divisão.

Nenhum comentário: